Em meio a uma pandemia, outros assuntos parecem menores. Mas a verdade é que, antes do novo coronavírus colocar o mundo na quarentena, a Humanidade já fazia um “belo” trabalho para colocar o seu futuro em xeque. Desmatamento, queimadas e poluição colocam mais de um milhão de espécies em risco de extinção e, num olhar realista, a nossa é uma delas. A questão marítima é particularmente importante, a ponto da ONU definir a década entre 2021 e 2030 como “a década do oceano”. E há muito o que ser preparado já em 2020.
Entre agosto e outubro de 2019, um vazamento de petróleo cru atingiu mais de dois mil quilômetros nos litorais do Nordeste e Sudeste do Brasil. O maior desastre ambiental registrado no litoral do país retirou mais de mil toneladas de óleo das praias nordestinas. Com os responsáveis ainda não identificados, os danos perdurarão por décadas: a contaminação de corais, mangues, além das mortes de peixes e formas de vida em geral ainda são difíceis de estimar, mas comprometeram a natureza e a economia locais, dando uma dimensão social ao acidente.
Em escala global, outro problema aflige ambientalistas: o plástico, que descartado inadequadamente, desemboca nos oceanos e contamina peixes. Há a previsão, inclusive, de que o peso de plástico nos oceanos do mundo supere o de peixes até o ano de 2050. O documentário “Garbage Island”, produzido pela revista Vice, denuncia que a região do Pacífico Norte conhecida como “Plastic Patch” (“remendo plástico”) contém mil partes de plástico para cada plâncton. Águas com seis partes de plástico por plâncton já são consideradas poluídas. Além de tornar os peixes impróprios para consumo, já que o plástico se acumula no interior dos animais, esta concentração compromete a produção de oxigênio no mar, colocando todo o ecossistema em risco.
O grande desafio dos ambientalistas na “Década do Oceano” é trazer o debate para o dia a dia. As lideranças políticas mundiais precisam tomar decisões, mas é o povo quem deve pressioná-las. A indústria também precisa repensar seus métodos de produção, reduzindo a extração de matérias-primas e aumentando a reciclagem e o upcycling. O consumo sustentável precisa deixar de ser um diferencial para ser a regra.
A escolha para os próximos dez anos é simples: nadar ou afundar.